A reinvenção dos provedores de Internet passou pela Abranet
Eduardo Parajo é, atualmente, vice-presidente da Abranet
Eduardo Parajo não estava na Abranet em sua fundação, em 1996. Ele se uniu à entidade no ano 2000 e, desde então, ocupou posições importantes como presidente e vice-presidente, além de compor o Comitê Gestor da Internet (CGI.br) como um dos representantes do setor empresarial. Apesar de não fazer parte do quadro fundador da associação, Parajo estava, sim, envolvido com a internet. Ele atuava no ramo de informática, com computadores, manutenção, sistemas operacionais e redes locais. Teve contato com a internet em 1995, quando começou a analisar esse mercado, na época, ainda ligado ao BBS. “Comecei a me interessar pelo processo como um todo e depois vendo a questão, principalmente fora do Brasil, dos serviços online. A internet estava nascendo ali em 1995, mais forte nos Estados Unidos, e estava começando essa transformação”, contou.
Parajo lembrou, durante sua entrevista em vídeo para o especial de 25 anos da Abranet, que o grande desafio para a maioria dos provedores naquele início era ter linhas telefônicas para receber as ligações dos modems. Ainda no monopólio estatal, as linhas custavam “um preço de ouro”. Depois da privatização, o cenário começou a melhorar um pouco. “De 1998 em diante, que eu me recordo, começaram a ter algumas coisas que a gente vê espalhadas hoje, em 2021, com bastante sucesso. Por exemplo, em 1998, já tinha iniciativa dos primeiros Internet Exchanges aqui no Brasil; eram na Fapesp. Em 2000, a Abranet tentou criar um ponto de troca de tráfego de internet dela e dos associados, uma iniciativa na época junto com o iG e tudo mais. Aquilo me chamou a atenção e eu me interessei em me associar, em participar, justamente para tentar fazer parte deste ponto de troca de tráfego”, detalhou.
De lá para cá, os provedores de internet tiveram de se reinventar e novos desafios apareceram. “Nesse período todo, se tem um segmento que se transformou por várias vezes e se readaptou às novas situações de forma bastante competitiva foi, realmente, o setor de internet e dos provedores”, ressaltou.
Mais ou menos no ano 2000, alguns provedores começaram a trabalhar com a última milha, o que, à época, era uma discussão muito grande com as operadoras, principalmente nos lançamentos das conexões da DSL, porque rompia um pouco o modelo tradicional que o próprio provedor utilizava. “A gente começou a ver grande alvoroço das operadoras tentando monopolizar esse mercado, excluir os provedores do negócio, ações judiciais, lutas bastante grandes, gratuitos e assim por diante”, contou Parajo. “Então, se a gente olhar o cenário e as transformações que vêm ocorrendo ao longo do tempo, eu diria que esse talvez seja um dos setores mais camaleões que a gente possa imaginar na face da Terra.”
Parajo destacou a veia empreendedora dos donos de empresas de internet, que buscam maneiras de contornar os problemas e os desafios para continuar crescendo e evoluindo.
Muito do crescimento e amadurecimento dos provedores de internet passou pela atuação da Abranet. “A gente veio durante esse tempo demonstrando a que viemos, quem somos, o que estamos fazendo, o que estamos buscando no mercado. A Abranet teve um papel fundamental no processo, de parcimônia, de ponderação, de tranquilidade em diversos momentos bastante tumultuados e bastante complicados do mercado. Isso fazendo interlocução com os players, seja com os seus associados, seja com fornecedores, agência reguladora, no Congresso, na questão de regulação. Acho que a gente teve, durante esse tempo todo, bastante interação nesse cenário como um todo e muita influência, buscando defender sempre os interesses desse setor. Esse desafio permanece para o futuro”, assinalou Parajo.
Ele avaliou que, nos últimos 25 anos, a Abranet sempre manteve diálogo muito bom com a Anatel, tendo conseguido grandes vitórias no sentido de trazer a realidade desse mercado para a agência e e também mudanças na regulação.
Como futuros desafios para a Abranet, Eduardo Parajo apontou manter a interlocução no Congresso, com o governo e a Anatel, mostrando caminhos factíveis para o setor. A questão tributária, ressaltou Parajo, está sempre na pauta. “É uma eterna briga, mas é uma briga que eu vejo que começa a ter alguns resultados. A gente segue a cartilha que está em lei hoje da separação dos serviços de telecomunicações da questão da internet. E aí acaba caindo em uma discussão muito mais com os estados, porque eles querem considerar tudo o que a gente faz como serviço de telecomunicações, mas a gente está tendo inclusive bons resultados no Judiciário após longas discussões, com o Judiciário reconhecendo essa separação.”
Mudança na Abranet
Ao longo dos 25 anos, a própria entidade se modificou, ficando mais abrangente e indo além dos provedores de internet. “Essa 'chave' a gente virou em 2008, se não me falha a memória, quando a gente propôs uma alteração estatutária transformando o foco de provedor de acesso em Associação Brasileira de Internet. A gente teve muita resistência de alguns associados, mas eu acho que foi acertado. Foi acertado até porque, se a gente considerar o funcionamento do mercado hoje como um todo, a figura do provedor está dividida em boa parte em duas atividades, que vêm lá desde o início. Uma é a atividade de telecomunicações e a outra é a atividade de valor adicionado e outros serviços que ele pode estar executando. Foi fundamental essa abertura, olhar as outras possibilidades”, defendeu.
A Abranet conta com associados que produzem conteúdo desde o início da associação e, hoje, há associados que são empresas de data center, que hospedam grande parte desse conjunto do ecossistema da internet no Brasil, associados que produzem aplicativos, que são marketplace de vendas de produtos, que são fortes no e-commerce, na hospedagem de domínios, na parte de meios de pagamento e também fintechs, as paytechs. “Se a gente está levantando essa questão da internet como um todo, a gente precisa olhar mais adiante e ir olhando as tendências do que vai acontecer e o que a gente pode estar marcando dentro da associação.”