Fundação da Abranet foi trabalho de muitas pessoas
Antonio Tavares teve papel relevante na criação da associação
“A Abranet foi um grande desafio, uma grande vitória e definitivamente colocou os provedores na linha de frente das telecomunicações.” Assim Antonio Tavares, apontado por muitos como a pessoa-chave para a fundação da Associação Brasileira de Internet, começou seu depoimento em vídeo pelos 25 anos da entidade. Apesar de muitos dos outros entrevistados terem destacado Tavares como a cabeça por trás da criação da Abranet, ele não se coloca assim. “Não quero me dar o direito de ser esse líder que pretendem”, disse.
Há uma justificativa, porém. Segundo o que o próprio Tavares comentou, por ser bastante dinâmico e ativo, ele exerceu sua capacidade de reunir as pessoas e tornar a fundação da Abranet mais fácil. Mas não foi, segundo ele, trabalho de uma pessoa só. A seu lado, havia diversas pessoas, como Paulo Cesar Breim e Aleksandar Mandić, executivos que vinham com experiência de BBS, precursor da internet, além de Luiz Carlos Bonilha e Cassio Vecchiatti. A eles, se juntaram pessoas oriundas de diversas empresas, inclusive grandes, que estavam interessadas no mercado, conforme contou Tavares.
“Nós fomos evoluindo com as nossas premissas, e havia uma pessoa dinâmica, chamada Jorge Luiz dos Santos, que participava também e, embora não fosse da área, era uma pessoa curiosa, interessada e participava das reuniões. Ele acabou propondo a criação de estatutos etc., e ele mesmo acabou fazendo o básico e nós aprovando”, relembrou. Assim, a Abranet nasceu.
A primeira luta dos provedores de internet era conseguir linhas telefônicas, cuja disponibilidade à época era baixa e os custos, altíssimos. “Ao passar para a internet, para o modelo puro de provedores de acesso à internet, nós passamos a ser mais um elemento de uma rede e, para isso, precisávamos ter acesso à banda larga. Mas a banda larga naquela altura estava na mão da Embratel, que cobrava por um link de 2 megas exatamente R$ 22.700,00. Precisava ter coragem para enfrentar um custo desses mensal”, contou.
A primeira pauta foi negociar a retirada da exclusividade da Embratel para que fossem criadas condições que não permitissem que as operadoras fossem concorrentes. “O Sérgio Motta, naquela altura, foi bastante condescendente. Além de fazer a desestatização, ele fez também a Norma 004/95, que estabelecia que os provedores eram os provedores de serviços de internet, e não os provedores de telecomunicações.”
Depois, o desafio era como chegar ao público. “Estivemos presentes em feiras como a Fenasoft, que já não existe mais, e começamos a fazer a divulgação. Começamos com poucos provedores; eram o Mandic, eu e o Paulo César, e fomos avançando com a internet, divulgando e dando treinamento ao pessoal, vendendo modem, fazendo tudo o que podíamos para crescer.”
Outra discussão era com relação aos impostos. “Na Norma 004/95, ficou muito bem definida a questão de impostos, porque já se questionava que imposto nós teríamos de pagar. Somos prestadores de serviços, ok, é ISS. E como vai ser se o estado nos cobrar o ICMS? Então, começou uma discussão intensa, e todo mundo praticamente optou pelo ISS. Foi uma luta muito interessante, e a Abranet teve um papel muito ativo e intenso nela. Tanto que a Abranet passava a ser reconhecida como a principal 'atora' nesse sentido e foi a primeira ascensão dos provedores. Muita gente não se lembra ou não entende o porquê do nome Abranet. Havia a provocação do Abra a Net, sabem?”, ressaltou.
O momento, lembrou Tavares, era de dialogar com o governo e com a Anatel. Por cuidar da net, Abranet seria um nome intuitivo.
Ao longo dos anos, os desafios foram muitos. Sem crédito específico disponível no mercado, os provedores de internet tinham de investir do próprio bolso. Para além do financiamento, depois, o modelo de negócios foi desafiado com o acesso gratuito, que, recorda Tavares, começou com os bancos. “O Bradesco começou com essa história do acesso gratuito, mas eles foram tirando o pé, porque vieram outros desafios, e outros desafios passavam pela chegada do iG. E o iG, sim, veio com uma proposta de grande investimento, com fundos etc., e reuniu nessa empreitada nomes como o Mandic, o Nizan Guanaes, o Demi Getschko, era uma equipe fantástica”, enfatizou.
Os provedores se reinventaram diversas vezes. Para Tavares, nesse processo foi essencial a “cabeça” dos executivos. Ele contou que lá atrás, em 1995, já era possível entender que a internet dominaria tudo. Naquele ano, durante uma feira em Atlanta, nos Estados Unidos, chamada BBS, Tavares observou que tudo girava em torno de negócios de internet. “Percebemos que já tinha a AOL e várias outras grandes disparando. Então, dissemos: “isso é irreversível, não tem jeito”. Voltamos para o Brasil convencidos de que o modelo de negócio nosso de BBS tinha que mudar. E, portanto, era apostar em um novo negócio. E assim fizemos.”
Analisando a internet atual, Tavares ressaltou a quantidade de tecnologias de conexão, chegando a mais lugares e à necessidade cada vez maior de segurança. “Hoje, serviço de segurança é fundamental, você tem que ter na sua empresa, assim como uma área de armazenamento de dados. São coisas diferentes, às vezes, se confunde a nuvem com armazenamento de dados e segurança, mas são diferentes e têm que ser olhadas dessa forma e tratadas dessa forma também.”