Publicada em: 21/06/2021 às 11:52
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Especialista: é necessário desmonetizar discursos de ódio nas redes sociais
Redação da Abranet*

Para conter o avanço dos discursos de ódio nas redes sociais uma das soluções apontadas é a "desmonetização" dos perfis, canais e páginas que os veiculem, além de medidas que impeçam que estes conteúdos sejam recomendados automaticamente por sistemas algorítmicos ou impulsionados. Essa é a opinião da pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV Direito Rio, Yasmin Curzi. 

Segundo a especialista, casos de celebridades e figuras públicas ganham maior repercussão dentre os demais, tendo em vista a possibilidade de amplificação dos discursos nocivos. Por isso, a solução apontada é retirar a possibilidade de obtenção de lucro nas redes sociais de quem propagar conteúdo de ódio.

Para Curzi, para conter este avanço, é preciso, sobretudo, que as companhias de redes sociais acompanhem as recomendações de organizações da sociedade civil, como o movimento Sleeping Giants, sobre a 'desmonetização' de discursos odiosos, impedindo que conteúdos que veiculem discursos ofensivos sejam monetizados via anúncios; adotem medidas menos restritivas à liberdade de expressão - como a suspensão automática de postagens que evoquem discursos ofensivos -; e fortaleçam mecanismos e canais de denúncias pelos usuários. 

Com o maior uso de redes sociais, de 2009 para os dias atuais, houve um crescimento bastante significativo do discurso de ódio, principalmente, quanto a neonazismo, xenofobia, lgbtfobia e discriminações de gênero (misoginia), conforme indicadores de denúncias de crimes cibernéticos do Safernet. 

Os dois maiores contingentes são racismo e apologia a crimes contra a vida, que seguem em crescimento constante pelo menos desde 2006, quando a ferramenta de denúncias do Safernet começou a catalogar estes dados.

Yasmin Curzi alerta que, na última década, foi registrado o crescimento do uso de redes sociais como forma de comunicação principal da população. De acordo com ela, a percepção sobre a presença de discursos de ódio aumentou por dois fatores: maior quantidade significativa de pessoas nesses espaços e a descentralização dos meios de comunicação. Assim, analisa, qualquer pessoa com acesso à internet pode se tornar um difusor (broadcaster) de conteúdo em potencial.  

Como consequência, segundo a pesquisadora, surgem os contrapúblicos que não possuíam centralidade na esfera comunicativa e podem agora difundir seus ideais e projetos, como o caso das minorias políticas e movimentos sociais. Ocorrem também eventos de reação ao discurso emitido por essas minorias políticas, que vêm, principalmente, sob a forma de ataques e tentativas de silenciamentos.

Em relação ao comportamento dos usuários, explica Yasmin Curzi, outras medidas já vêm sendo adotadas por algumas plataformas para evitar postagem de conteúdos odiosos, por meio de nudges - caso do Instagram, na implementação de políticas anti-cyberbullying. Outra ação adotada tem sido remover contas consideradas inautênticas (chamados robôs) - o que também é significativo para diminuir ataques coordenados.


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