Publicada em: 23/06/2020 às 13:47
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Desigualdade no acesso à internet também se evidencia entre crianças e adolescentes
Roberta Prescott

Na pandemia,  diante do distanciamento físico como medida para conter a propagação da Covid-19, a internet passou a ser “a janela para o mundo”. Mesmo realizada em campo antes da propagação do novo coronavírus, a 8ª edição da pesquisa TIC Kids Online, ressalta a importância que a conectividade tem para crianças e adolescentes de 9 a 17 anos no Brasil e destaca que a desigualdade no acesso — um desafio ainda a ser vencido — coloca os mais pobres e os moradores de áreas rurais em desvantagem.  

Na transmissão on-line para compartilhar os principais resultados da pesquisa, Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, abriu sua fala chamando a atenção para as 4,8 milhões de crianças que vivem em domicílios sem acesso à internet. “Com condições limitadas de acesso à internet, há menor engajamento da criança aos processos de ensino e aprendizagem”, disse, completando que o acesso limitado se dá, sobretudo, nas classes D e E, entre a população das áreas rurais e remotas, e nas regiões geográficas Norte e Nordeste. 

“Ficam muito evidenciadas as desigualdades digitais que ainda persistem em nosso País. E, em um período em que praticamente a totalidade das escolas está fechada, a falta de acesso à internet amplifica esta desigualdade existente e é um fator limitador ao acesso a conteúdos educacionais, cultura e também habilidades digitais”, completou Barbosa.  

Coordenadora da pesquisa, Luísa Adib Dino afirmou que o dado de que 89% das crianças entre nove e 17 anos estão conectadas traz um aspecto positivo e tem de ser comemorado. “Temos aumento de participação deles no ambiente online, mas um ponto de atenção é que ainda há diferenças no acesso. A conectividade na classes AB é de 100%, enquanto na DE é de 80%; e têm também diferenças geográficas entre urbana (92%) e rural (75%)”, apontou. 

No Brasil, 3 milhões de crianças e adolescentes ainda não são usuários de internet, sendo que 1,4 milhão nunca acessou. Sobre o principal motivo para não usarem a internet, 94% dos respondentes disse não ter conexão em casa. A TIC Kids Online 2020 mostrou que 4,8 milhões de crianças e adolescentes de 9-17 anos vivem em domicílios sem acesso à Internet no Brasil (18% dessa população). 

Luísa Adib Dino enumerou três tendências levantadas pela pesquisa: aumento do uso do telefone celular; aumento do acesso à internet pela TV e queda do uso do computador. Embora a popularização dos dispositivos móveis tenha propiciado que mais crianças e adolescente acessassem a internet, o número elevado (58%) de pessoas que acessam a internet exclusivamente pelo celular é alto, o que traz implicações nas habilidades digitais.

A pesquisa mostrou que o acesso exclusivo por computadores é de 2% e o acesso combinado, por meio de computador e celular, é de 37%. Na divisão das classes sociais, o celular é uso exclusivo por 73% na classe DE, 59% na C e 25% AB. Considerando o celular como dispositivo mais usado, tipo de conexão se dá por principalmente por Wi-Fi (87%), sendo 49% por 3G e 4G.  “Predominantemente, o acesso é domiciliar, feito na casa ou na casa de outra pessoa, o que é uma tendência internacional. No Brasil, o acesso na escola acaba sendo reduzido, mesmo que na classe AB seja maior”, disse a coordenadora. 

Fabio Senne, coordenador de projetos de pesquisas do Cetic.br, lembrou que o uso da internet para pesquisas escolares é a porta de entrada para utilização da internet de forma geral, o que também ocorre em outros países. “Mas as desigualdades aparecem maiores no Brasil, entre classes sociais, o que pode ter convergência com as dificuldades da presença de conectividade e dispositivo no domicilio. Temos de valorizar que nossas crianças e adolescente já fazem uso educativo, mas tem muita diferença ainda”, disse. 


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