Democrática, Abranet abre espaço para empresas de todos os portes
Fredric Michael Litto viu surgir o videotexto e, depois, a internet
O primeiro contato de Fredric Michael Litto com o que viria a se tornar a internet se deu na década de 1960, quando cursava pós-graduação na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Litto aproveitou a entrevista em vídeo em comemoração aos 25 anos da Abranet para relembrar parte da história do nascimento dos precursores da internet.
“Na década de 1970, um funcionário do Ministério de Telecomunicações da Grã-Bretanha, especialista em telecomunicações, técnico, disse: 'poxa vida, aqui na BBC, aqui no Ministério de Telecomunicações, temos muita informação em nossos computadores a que o público gostaria de ter acesso' e disse 'Poxa vida, todo mundo tem televisão em casa, todo mundo tem linha telefônica em casa, porque eu não posso fazer um sistema usando linhas telefônicas comuns e televisões comuns? Se eu dou para as pessoas uma caixa que interpreta os 'zeros e uns', eu poderia fazer um sistema de comunicação, divulgando informações e assim por diante”. E assim nasceu o videotexto, que era chamado Minitel na França, Bildschirm Text na Alemanha. Antônio Delfim Netto, que era embaixador brasileiro na França, comprou a tecnologia francesa de videotexto, que veio para o Brasil em 1982”, lembrou.
Litto recordou-se de que o videotexto tipicamente brasileiro começou com dois computadores de grande porte, e foi formada uma associação muito similar à Abranet, chamada Associação Nacional de Videotexto, da qual ele era membro da diretoria. “Para os grandes provedores de informação, como Gazeta Mercantil, como a Editora Abril etc, era muito fácil entrarem nessas novas tecnologias digitais, porque eles já tinham décadas de experiência coletando informações. Então, os grandes provedores acharam fácil entrar nesse novo mundo digital que depois virou internet, web e assim por diante. Mas tinha certos nichos de mercado em que startups foram formadas por jovens, especialmente, que queriam ter um pé de meia e queriam se divertir ao mesmo tempo”, relatou.
Além do videotexto, outro sistema de informação, o BBS (Bulletin Board Service), estava começando no fim da década de 1970. “O BBS era um sistema comunitário como quando você vai no supermercado ou em uma escola e tem o quadro de avisos. As pessoas poderiam, das suas casas, com um terminal muito simples, postar mensagens para a comunidade, mas era muito sem jeito, era muito limitado. Depois a internet veio, primeiro para as Forças Armadas americanas, depois para os Aliados e depois para a comunidade científica. E o público só teria acesso a isso na década de 1990”, disse.
Litto já tinha experiência com outras associações antes de se juntar à Abranet. Para ele, a Abranet repetiu a experiência da Associação Nacional de Videotexto, ao colocar startups na mesma associação de grandes empresas. “Era muito democrática a coexistência de provedores grandes, provedores de tecnologia, de conteúdo, de serviços e assim em diante. Isso foi uma coisa absolutamente nova e que tem permanecido até agora”, frisou.
Para ele, um diferencial da Abranet é que ela oferece uma oportunidade para os grandes coexistirem, trocarem ideias com os pequenos. “A Abranet foi o fórum para discutir problemas que surgiam em sua reunião anual, seus relatórios anuais.”
Ao correlacionar a Abranet e a internet, Litto se baseou na entropia. “É a segunda Lei de Newton que, de um centro organizado, o mundo está fragmentando em todas as direções. Por exemplo, quando eu era jovem, tinha rádio, e eu lembro que, quando a televisão chegou, todas as emissoras tinham sempre o mesmo conteúdo: música popular, noticiário, esportes e assim por diante. Hoje em dia não, a gente tem um canal para notícias ou vários canais para notícias, separados, quer dizer, fragmentação. Então, a fragmentação, essa atomização vai continuar, essa especialização, porque tem sido feito assim nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, fusões; por exemplo, os grandes, os grandes fabricantes, grandes provedores de informação, eles têm “ouro”, como a gente fala em inglês, a capacidade de comprar as startups, os pequenos e juntá-los. Então, vamos ver entropia de um lado e fusão de outro lado. Essas tendências que têm sido identificadas estão muito claras, talvez algumas outras tendências com certeza surgirão, mas essas são as duas mais importantes até agora”, concluiu.